segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O Relógio de Pascal - Caio Túlio Costa


                                                      edição de 1991, editora Siciliano

Houve um tempo em que o autor e eu, sua esposa Bell, seus filhos pequenos e minhas filhas adolescentes conseguíamos sentar sob o mesmo guarda-sol na praia e brincávamos, na década de 90, que era o maior percentual de "ex ombudsman", por metro quadrado, nas praias do Guarujá... 1994 ou 1995.

O livro de Caio Túlio Costa, (meu exemplar é da Ed Siciliano), foto acima, é muito significativo pois relata a experiência do primeiro "Ombudsman" da imprensa brasileira e é obrigatório para quem trabalha com Ouvidoria, em empresas públicas e privadas. Proveniente de um universo articulado de poder, o Quarto Poder, a Mídia, a Imprensa.

Esse seu livro revela, sem eufemismos, sem "pisar em ovos", o montante de tensões, atritos, conflitos, interesses e posicionamentos durante seu período de trabalho no jornal Folha de S.Paulo - entre 1989 a 1991.

Ele relata casos, entra em detalhes das tratativas e demandas dos leitores, comparou com serviços de outros jornais, pode "dar nome aos bois" e, poderíamos até concluir que, a existência da entidade como a ONO - organização de "Ombudsmen" de imprensa, com sede nos USA, permite uma referência para o profissional em sua primeira experiência num jornal.

Riscos sempre existem porém, podem ser melhor calculados  e conduzidos, com o respaldo de experiências institucionalizadas.

ler na página 33 - "ombudsmen", em sintonia com seus sentimentos: "mal tratados, incompreendidos, isolados e vulneráveis".

pg 32 - Sobre a necessidade de alguma bondade do profissional, alguma ingenuidade, no bom sentido. (e eu, Maria Lucia Zulzke, com a experiência que tive durante quase 6 anos, numa empresa química,dentro da Gerência de Comunicação Social, com uma proposta ampla e inédita, creio que não reproduzida, depois dos quase 6 anos, diria que é pela presença desses sentimentos de bondade e/ou ingenuidade, e não os de malícia ou esperteza, que profissionais podem vir a ser, realmente, abusados interna e externamente. Clientes e consumidores podem ser cruéis ao testarem uma informação muito específica, criarem "situações" para o profissional, daí a necessidade de apoio institucional. )

Caio Túlio Costa teve sua carreira construída em jornalismo, a coerência de uma trajetória que não permite dizer que tenha  precisado "mudar" de lado, mesmo quando foi defender os interesses dos leitores como "Ombudsman".

Ele pode trabalhar como jornalista, colunista, professor de jornalismo, diretor de redação, editor de redação e correspondente.  Ele pode ser pleno em sua carreira e continua atuando pleno com seus conhecimentos aperfeiçoados. Sua biografia é pública e aberta.

Trabalhar em jornalismo no Brasil, significa também trabalhar para um seleto, poderoso e aclamado grupo de famílias que controlam a quase totalidade das informações, como ele menciona numa das páginas do livro: Globo - os Marinho, Record - Macedo, SBT - Silvio Santos (Abravanel), Ed. Abril - Roberto Civita, Folha de S.Paulo - Frias, Estado de S.Paulo - os Mesquita, Bandeirantes - Saad e, assim por diante. Se a mídia se amplia para provedores de internet é mais um negócio na "holding" dos empresários da comunicação.

Muita competência e muito talento são os diferenciais dos profissionais de sucesso!

E Caio Túlio bem lembra em seu livro, a faixa etária dos profissionais da Folha de S.Paulo na década de 80,  média de 28 anos de idade. pg 161 

pg 33 - A faixa etária de "ombudsmen", porém, é mais alta, superior a 45 anos e alguns com até 65 anos." (comentários meus: Vera Giangrande, relações públicas, a "Ombudsman" do Consumidor do Grupo Pão de Acúcar, contratada em 1993 para essa função, tinha cerca de 62 anos. Faleceu, trabalhando, aos 69 anos.)

pg 160 - "Erra quem tem pressa" e a Folha de São Paulo tem pressa, muita pressa em se mostrar em permanente revolução editorial" - (abençoado mundo no qual podemos admitir os eventuais erros! Críticas a manchetes, críticas à precisão dos dados, folhas impressas! ) Em 1984, o jornal tinha uma circulação anual de 81 milhões de exemplares e em 1990 alcançou 120 milhões de exemplares, a maior circulação paga de jornal no país. pg 158

Caio Túlio Costa relata atritos com outros articulistas. pg 127
Na imprensa as notícias são expostas, os estilos ficam expostos, as crenças expostas, como o capítulo sobre Paulo Francis! Quantas lembranças para quem acompanhava a ambos. 

Caio Túlio Costa relata os limites do finito, diz nome e data dos leitores que fizeram contato pg 63.

E, também, Caio Túlio Costa, quebra chavões e, na pg 59, diz textualmente, " Nem sempre o leitor tem razão. Nem é porque ele reclamou que ganha o direito de defesa... Ele representa o leitor, isso sim, mas as causas precisam ser corretas e ter relevância jornalística."

A responsabilidade de um "Ombudsman" é grande, com a exposição às vezes incomodando colegas e ninguém irá garantir um corpo jurídico respeitável para acompanhar os desdobramentos da vida de um "Ombudsman" .

Atender 100 pessoas por dia? responder a 15 questionamentos diários? Telefonemas? Emails? A parte tática, operacional, logística é a esperada e a menos traumática.

Os atritos, "os resquícios de ódios pessoais", as inimizades "conquistadas", as engraçadas "brincadeiras e pegadinhas" e os juros "futuros" que os profissionais  poderão ter que pagar... nunca se sabe.

Neste Carnaval de 2010, o livro que me acompanha é o "Relógio de Pascal" para que pulsem de bons fluídos e de amizades, as minhas estantes de madeira, com excelentes livros de excelentes autores.
Maria Lucia Zulzke, em 15 de fevereiro de 2010, às 12:20 hs, em S.Paulo - SP - Brasil.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Redação Escolar: Criar - Samir Meserani - Atual Editora

Um dos exercícios do livro do Professor.  Em sala de aula, ele aplicava esses exercícios, e coordenava a dinâmica.




pg 43: exercícios

"1. Escreva palavras referentes ao modo físico de duas pessoas. Ex:  gordo, olhos verdes, cabelos crespos.

2. Nós não nos conhecemos com certeza e exatidão. Mas temos uma certa imagem, real ou ideal, de alguns traços psicológicos nossos. Indique três traços que você acha que são próprios do seu modo de ser.

tímido
extrovertido
seguro
inseguro
humilde
arrogante
tranquilo
ansioso
flexível
rígido
corajoso
covarde
egoísta
altruísta
vencedor
perdedor
desajeitado
habilidoso
sociável
anti-social

Agora procure um colega e converse com ele sobre este exercício. Não precisa mostrar o que você escreveu, a não
ser que você queira."
Maria Lucia Zulzke, em 12 de fevereiro de 2010, às 8:55am, em S.Paulo - SP - Brasil.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Redação Escolar: Criar - Samir Meserani

Este livro, indicado para professores do segundo grau, é sobre  criatividade e redação escolar.

Professor Samir, em 1994, abriu cursos e ministrou aulas para pequenos grupos interessados em Redação Criativa.

Estavam presentes - professores, jornalistas, assessores de imprensa, profissionais de agência de publicidade e, eu também, aventurei-me na área, em busca de descobertas. Era livre a participação, para quem amasse leitura e escrita.

Professor Samir, durante décadas, professor da Puc-SP, deixou saudades. Fazia comentários em voz alta para o grupo sobre o trabalho de cada um de nós e,  com delicadeza, corrigia e sugeria, sem ferir ninguém. Era um prazer imenso ir para a aula com meus rascunhos, ouvir as redações dos demais e ler meus textos.

Vários amigos e amigas leram o que eu escrevi na época. Alguns ficaram com meus textos. Eu, mergulhava numa página, refazia e reescrevia, tentava encontrar o melhor nome, a melhor saída para meus personagens. Um acontecimento externo observado, se me agradava, era incorporado para um dos personagens, visto que era imaginação e não relatório técnico.

Desenvolvi, naquela época, um texto que eu tinha a pretensão de publicar e tornar material para-didático "Alice no País das Empresas"  mix de situações, conciliando conhecimentos  e conceitos, aprendizados na área empresarial, focando serviços a clientes e atendimento ao consumidor. 

Eu lia livros sobre administração de empresas e pensava em sinergia com criatividade.

Algumas características ficam marcantes nas várias categorias profissionais, em função do trabalho, da mesma ocupação ao longo de anos.  

Consegui,  com a supervisão do Professor Samir, fazer várias minutas de "Alice" em que uma personagem hipotética vai para dentro de empresa hipotética, atraída por propagandas e encontra diversos tipos de profissionais, em vários setores, interagindo com o produto, serviço e a propaganda.  Woody Allen tem um filme em que a expectadora interage com os personagens e "entra na tela" -  "A Rosa Púrpura do Cairo" em que uma mulher mergulha nas telas do cinema para esquecer dos problemas reais.

A meta era estar entre profissionais conscientes que trabalham  e procuram fazer produtos com qualidade e oferecer serviços de acordo com a expectativa gerada e as propagandas divulgadas - eficiência, confiança, preço, qualidade, praticidade, adequação ao consumidor e ao uso etc 


Alice relaciona-se de maneira distinta com os vários profissionais, entusiasmada,  iludida, impulsiva, carente,  poderosa, indecisa, criativa, persistente e cheia de esperanças em identificar pessoas que a aceitem e façam uma equipe envolvida em qualidade, sinergia, amizade etc.


Ao final do aprendizado de Alice, naquele determinado setor,  eu tentava apresentar resumo das atividades do setor, colocando os ítens das tarefas e a visão da trajetória.  Não era fácil.

Era um mix de material lúdico e didático, e redigi as minutas no primeiro semestre de 1994. Fiz chegar a algumas pessoas cópias digitadas.


Pedi para pessoas, alheias ao grupo, lerem e darem sua opinião mas, por cautela e dificuldade em conciliar as mensagens  importantes, aquele material ficou no rascunho,  páginas digitadas à espera de condução final da abordagem.  Não dei  andamento e não tive estímulos para publicar. Sei todos para quem enviei.

Sem que eu pedisse ou esperasse, mandaram-me fax dizendo que enviariam cópias daquele material para pessoas que não sei se eram do governo, e eu não conhecia, para que opinassem.

Fiquei perplexa com a facilidade da apropriação do meu rascunho, material de estudo em sala de aula, em elaboração. Eu queria leituras e críticas e devolutivas sobre o estilo mas parei de mostrar para outras pessoas.

Quando um conteúdo é confiado a outras pessoas, fica difícil controlar seu destino.

Um profissional articulado no mercado e universidades .... com influência, mostrou-se realmente problemático em muitos aspectos, inclusive atribuindo a mim, num prefácio de livro, uma frase inexistente nesse rascunho de "Alice" .

Comuniquei, por escrito, ao autor do livro, que a frase não me pertencia, além de ser inadequada e sem sentido no prefácio daquele seu livro. Finalizei este problema me manifestando e discordando do prefácio com citação que não havia no material.

Da minha parte e, lembrando-me das intenções dos meus rascunhos sobre Alice, eu buscava uma solução integradora e libertadora, uma solução de competência e compromisso entre as pessoas. 

Voltando ao livro do Professor Samir Meserani: em seu Prefácio ele escreve: "Em 1971, quando ainda se insinuava o que se convencionou chamar de "a crise da linguagem", professores de Comunicação e Expressão da rede pública paulista, reunidos pela Secretaria de Educação do Estado de S.Paulo, indicaram redação escolar como o objeto de maior problema dentro de sua disciplina. Convidaram-me, então, a falar sobre isso: numa palestra que intitulei de " O medo em trinta linhas", mostrava que o próprio sistema escolar é que amedronta e inibe o aprendiz de textos..... Editar livros que se pretendem criativos é mais difícil ainda."

"Depois das trevas faz-se a luz, dizem os discursos míticos. Assim, em 1989, a Atual Editora, resolvida a lançar livros didáticos qualitativos, voltou-se para o ensino da redação escolar. Não era sem tempo... Além das fases de fluência, de estímulo e de criação, traz instruções sobre a comunicação ou leitura de textos e indica critérios de avaliação. ... A redação, de tal modo, não é escrita para o professor, mas para todo um grupo (a classe), no qual o professor é um dos leitores, o tecnicamente mais preparado. "

Hoje, não temos mais a presença do Professor Samir, mas seu livro é um material reconhecido, para quem gosta de se manifestar e comunicar pela linguagem escrita. 
Maria Lucia Zulzke, em 11 de fevereiro de 2010, às 8:00 am, em S.Paulo - SP - Brasil.