sábado, 8 de novembro de 2014

O Primeiro Homem, Albert Camus, 1994

Meu exemplar desse livro foi comprado nos anos 90, talvez esperasse o tempo certo para ser lido.
Deliciosas horas me proporcionou nesse início de novembro de 2014 ! Ao final da leitura, fui pesquisar a biografia do autor e, para minha imensa surpresa, era o exato dia do seu aniversário 7 novembro - nasceu em 1913, morreu num acidente de carro com apenas 47 anos, em 1960. Além de ser um livro lindíssimo sobre infância de um menino, o aprendizado no colégio e as dificuldades da vida e rotina numa família pobre, mostra quão importantes são os professores para órfãos, e podem ajudar a ocupar o vazio deixado pela morte de uma figura parental. Os manuscritos desse livro foram recuperados com característica valiosa, foi necessário imenso esforço para conseguirem datilografar as páginas manuscritas em letra miúda e bem difícil de ser entendida, como fotos de páginas do manuscrito revelam. Esses manuscritos foram encontrados com o autor, no carro onde se acidentou e morreu. Quem escreve e narra a história é Jacques, aos 40 anos, a partir da visita que faz ao túmulo de seu pai. O texto é em formato de autobiografia pungente. Trata de uma universalidade que extrapola completamente o exótico lugar de Argel, Descreve a beleza do lugar, a praia, os árabes, os comerciantes, as ruas, a fachada do colégio, o rigor e bondade do professor, em vigorosa memória pessoal sobre o crescimento de uma criança. "Jacques sempre tinha devorado todos os livros que lhe caíam nas mãos e engolia-os com a mesma avidez com que vivia, brincava ou sonhava. Mas a leitura permitia-lhe escapar para um universo inocente em que a riqueza e a pobreza eram igualmente interessantes porque eram perfeitamente irreais." Um professor observou a capacidade do menino e se comprometeu a ajudá-lo no exame de admissão do ginásio - "Um professor primário, deste ponto de vista, está mais próximo de um pai, ocupa quase todo o seu lugar, é inevitável como ele faz parte da necessidade."... "Sua ortografia imperturbável, seus sólidos cálculos, sua memória treinada e sobretudo o respeito que lhes tinham inculcado por todos os tipos de conhecimento eram, ao menos no início de seus estudos, trunfos magistrais." "... Casbah, um bairro que dominava a cidade e o mar, ocupado por pequenos comerciantes de todas as raças e religiões, onde as casas cheiravam ao mesmo tempo a tempero e a pobreza. Lá estava ele, envelhecido, o cabelo mais escasso, as manchas de velhice por trás da pele já vitrificada das faces e das mãos, deslocando-se mais devagar do que outrora e visivelmente contente logo que conseguia sentar-se em sua cadeira de vime, perto da janela que dava para a rua do comércio...." contracapa - Romance que assume uma dimensão mítica e trágica, testamento literário e político de um dos maiores escritores do século 20 - Depois de ler o livro, ainda há mais um presente à espera de seus admiradores/as, pelo youtube, consegue-se ver a magistral interpretação por Marcelo Mastroiani, do Filme O Estrangeiro - numa recuperação excelente em qualidade. Início de novembro voltado a esse célebre autor nascido na Argélia, tendo lido a carta que escreveu ao professor em 19 novembro de 1957 - época em que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Maria Lucia Zulzke, em 8 de novembro de 2014, em S.Paulo - capital - Brasil, sábado 5:59 pm

domingo, 2 de novembro de 2014

Diário da Queda - Michel Laub - Cia das Letras

Diário da Queda, excelente livro de Michel Laub (foto) é um romance sobre Identidade e Memória, as influências das gerações numa mesma família. Em uma escrita ágil, atraente, usa da ironia em alguns capítulos, aborda desafios de adolescentes nas escolas, o conceito de grupo e suas identidades, do adolescente "diferente", trata do tema atual do "bulling" sem mencionar esse termo, perseguições podem ser suportadas sem que os pais dos estudantes fiquem sabendo. Pelo avô, imigrante europeu, o narrador aproxima muitos de nós com ascendência européia, que se lembram de alguém da família com características semelhantes, a circunspecção e poucas palavras, as profissões disponíveis como caixeiros-viajantes, comerciantes e a dificuldade com o domínio do idioma. Para aqueles cujo foco principal é o holocausto, o avô é sobrevivente que, no Brasil, teve oportunidade de casar-se e formar família no Rio Grande do Sul. Há uma abordagem da moral judaica e rituais para introduzir os rapazes na vida adulta, descobertas e registros, por meio de diários do avô do narrador. O autor passa grande emoção em seu ritmo de escrita nas 151 páginas. Os direitos autorais foram vendidos para o cinema e há versão do romance em mais de 10 idiomas. Editora Companhia das Letras. Esse foi um dos livros estudados no Ciclo de Críticas, de autoria de Michel Laub, coordenação Jardim Alheio, na Casa das Rosas, em S.Paulo - capital, no mês de outubro de 2014. Maria Lucia Zulzke, em 02 de novembro de 2014, em São Paulo - capital - Brasil, 10:36 am.