Todos os livros que apresentei neste blog, para mim, são preciosos, por razões distintas.
De exclusivo valor sentimental, como o pequeno livro para público infantil, escrito por minha filha caçula, sobre noções de consciência ecológica e preservação de florestas. Ou, o meu próprio livro, pelas lágrimas e sofrimentos das experiências profissionais que eu precisei transcender enquanto digitava o original do livro.
Os autores escolhidos e apresentados neste blog, com suas obras, foram as pessoas que me abriram a mente para o mundo real, para o lugar onde eu vim parar num frio inverno, de julho de 1951.
Então, isso é o Mundo, esse é o Planeta Terra!
Muitas vezes, o resultado é intimidador mas, mesmo assim, é necessário prosseguir, cautelosos(as) pelo temor do mundo interno de algumas pessoas que pensam que seu mundo interno corresponde à Verdade Absoluta ou, pelo temor às interpretações que pessoas dão às suas "verdades" gritadas, repetidas e impostas.
Estudamos e prosseguimos, cada vez mais prudentes e sabendo que menos sabemos.
O livro Confiança - Trust - de Francis Fukuyama não me parece, salvo outras informações da mídia, que tenha feito o estrondoso sucesso do seu polêmico "Fim da História" mas eu considero TRUST um livro de grande importância pela apresentação que faz da situação humana e da arte das associações culturais, dos valores familiares, e de países onde se vive, pelas questões culturais, em situações de baixo nível de confiança ou de alto nível de confiança.
O autor faz estudos, analisa, exemplifica e tira uma radiografia tão detalhada de assuntos que raramente nós, simples mortais, teríamos acesso. Aborda a questão do emprego, de filhos e estranhos, do grupo fechado do dinheiro, locais de trabalho, engenharia social e a espiritualização da vida econômica.
Como tenho feito como método, neste blog, vou selecionar alguns trechos para despertar a curiosidade sobre o livro e fazer com que procurem e leiam o livro todo. É uma preciosidade oferecida pelo autor, a quem prestamos nossos agradecimentos.
pg 19 - "Uma sociedade civil próspera depende dos hábitos, costumes e princípios éticos de sua gente - atributos que só podem ser moldados indiretamente mediante uma política deliberada e que precisam, outrossim, ser alimentados por meio de uma conscientização e respeito crescentes pela cultura."
pg 21 - " todo ser humano deseja ver sua dignidade reconhecida (isto é, apreciada pelo seu devido valor) por outros seres humanos. Na realidade, esse anseio é tão profundo e fundamental que é um dos principais motores de todo o processo histórico humano. Em épocas primevas, esse desejo de reconhecimento se exteriorizava na arena militar quando reis e rainhas se empenhavam em sangrentas batalhas pela supremacia. Nos tempos modernos, essa batalha transferiu-se da arena militar para o campo econômico, onde proporciona o efeito socialmente benéfico de criar em vez de destruir riqueza.......Trabalho e dinheiro são muito mais importantes como fontes de identidade, status e dignidade, quer se tenha criado um império multinacional nos meios de comunicação, quer se tenha promovido a capataz. Esse tipo de reconhecimento não pode ser obtido individualmente; ele só pode acontecer num contexto social. "
pg 25 " O conceito de capital humano, largamente usado e compreendido pelos economistas, parte da premissa de que o capital hoje se constitui menos de terra, fábricas, ferramentas e máquinas do que, em escala crescente, de conhecimento e aptidões dos seres humanos. Coleman sustenta que, além do conhecimento qualificado, uma porção distinta do capital humano tem a ver com a capacidade das pessoas de se associarem umas às outras, que é crítica não apenas para a vida econômica mas praticamente para todos os outros aspectos da existência social.
A capacidade de associação depende, por sua vez, do grau em que as comunidades compartilham normas e valores e mostram-se dispostas a subordinar interesses individuais aos de grupos maiores. Desses valores compartilhados nasce a confiança, e confiança na nossa maneira de ver tem um grande e inestimável valor econômico."
Em outros parágrafos, o autor explica que não haveriam tantas guerras se elas fossem travadas apenas por razões econômicas - muitas guerras acontecem por objetivos não utilitaristas como religião, prestígio, honra, justiça e reconhecimento.
E economistas afirmam que só se pode saber que algo é útil por meio de escolhas, preferência revelada, de hábitos herdados.
pg 76 "Há três largos caminhos para a sociabilidade: o primeiro é baseado na família e nos laços de parentesco; o segundo, em sociedades voluntárias fora do âmbito familiar, tais como escolas, clubes e organizações; e o terceiro é o Estado."
Existem países onde as famílias têm um papel exponencial e as associações voluntárias são relativamente fracas e, existem países onde as associações sem vínculos com as famílias são numerosas e fortes.
pg 77 "Praticamente, todos os empreendimentos econômicos começam como um negócio de família; isto é, companhias que pertencem a famílias e são por elas administradas. A unidade básica de coesão social também serve de unidade básica do empreendimento: a mão de obra é dividida entre cônjuges, filhos e assim por diante, até chegar a círculos cada vez mais remotos de contraparentesco."
O capítulo sobre o grupo fechado do dinheiro, as redes de riqueza, a etiqueta dessas redes e suas regras etc. Os membros de uma rede tendem a transacionar entre si. Seria essa uma informação relevante que derruba o mito do mercado livre e explica a hierarquização das riquezas?
As pequenas empresas da Itália central, por exemplo, são unidas em teias de interdependência, assim como na América ou nas sociedades chinesas e japonesas, entre outras. A economia alemã, por exemplo, contém muitos grupos industriais centrados em bancos. Algumas redes de negócios são baseadas em obrigações morais recíprocas.
Este livro mostra a complexidade da vida econômica e produtiva, ampliando de forma infinita, as variáveis e indicadores que fazem com que alguém possa terminar sua vida como vencedor (a) ou fracassado (a). Portanto, o valor pessoal parece ser algo passível de ser inflado, estimulado ou desprestigiado ou esgotado de acordo com as redes de negócios de uma família ou seus interesses.
As análises empresariais e os estilos de administração, o formalismo ou trabalho em equipe, a centralização do comando, o tipo de avaliação e sistemas de promoção, as possibilidades de transferência em cargos, a tendência aos privilégios no trabalho ou o senso de longevidade na comunidade e local de trabalho são aspectos minuciosamente desenvolvidos por Francis Fukuyama. Em algumas culturas empresariais, é impossível transferir um operário de uma ilha de trabalho para outra se não pertence a determinada categoria. E, algumas formas de administrar, abominam os confrontos de autoridade, cara-a-cara, além da remuneração ser baseada em antiguidade e classificação de cargos.
Como durante muitos anos eu trabalhei com assunto "inovador" - defesa do consumidor e representação de um consumidor interno crítico dentro de uma empresa, lamento que esse livro tenha chegado tão tarde nas minhas mãos porém, posso entender, ainda com mais clareza, as sabotagens que sofri no ambiente de trabalho.
Se os sociólogos dessem conta de algumas dessas complexidades convergindo para modelos de sucesso, sem que o homem se tornasse um alienado, uma peça insignificante no sistema social e de produção...haveria mais confiança e menos dispersão. E, pelo que entendi, parece que nem mesmo o sistema jurídico e legal alavanca, de forma isolada, a confiança numa sociedade, tanto como acontece em membros pertinentes a comunidades orgânicas.
O livro TRUST chega perto de 400 páginas e apresenta ampla bibliografia. É uma preciosidade para terminar o ano de 2009, compartilhando com quem se dispôs a acompanhar este blog!
Pude escrever um pouco sobre os livros que amo e com os quais aprendo. Para mim, esses livros apresentam valor imensurável!
Espero que, quem tenha lido o blog e procurado ler, com cuidado, os livros mencionados saiam igualmente "nutridos" e felizes com as sugestões.
Feliz Ano Novo!
Maria Lucia Zulzke, em 29 de dezembro de 2009, em S.Paulo - SP - Brasil, às 8:40 am.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
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