terça-feira, 29 de setembro de 2009

O MITO DO PROGRESSO - GILBERTO DUPAS - Ed. UNESP


Este livro, eu li no primeiro semestre de 2006, e fiz questão de escrever para o autor agradecendo-o, como normalmente faço quando aprecio muito uma leitura.

Volto ao livro, de quando em quando! Volto ao livro para conferir meus sentimentos e racionalizações em relação a algumas decisões sobre as quais eu nada posso fazer como cidadã.

Por favor, não jogar papel no chão eu aprendi há décadas!

Gilberto Dupas analisa temas tão importantes do novo conhecimento - biologia molecular, células tronco, energia nuclear, que ainda acredito, como ele, que a humanidade não sabe colocar limites nas suas investigações para se auto proteger de uma desgraça coletiva mortal.

É nesse aspecto, do ponto do limite da ambição do ser humano, da incapacidade do ser humano se auto proteger de uma desgraça coletiva  é que o livro de Gilberto Dupas para mim foi um grande alerta.

Quantos cientistas e inventores fantásticos, não morreram lamentando suas invenções, deturpadas e usadas para o mal?
Somos divididos e coagidos por discursos éticos morais ou pela visão empresarial do lucro.

pg 206 " As questões éticas passaram a depender totalmente de circunstâncias; não cabe mais nenhuma lei universal ou igualmente definitiva para todas as pessoas"

"As atuais teorias da justiça e da moral trilham caminhos próprios, de modo diferente da ética, deixando apenas espaço para certas éticas "especializadas". Habermas nos lembra que teremos de resolver se as novas e imensas margens de decisão que a tecnologia genética abre ao homem terão de ser exercidas segundo considerações normativas inseridas na formação democrática das sociedades em que se insere, ou de maneira arbitrária, regidas unicamente por preferências subjetivas individuais e pelas regras liberais de mercado. Ele acha que devemos encarar com responsabilidade o seguinte dilema: a idéia de que intervir no genoma humano é algo que precisa ser normativamente regulamentado , ou deixaremos as transformações ao sabor de preferências que devam depender de escolhas sem nenhuma limitação?

Esse é o grande desafio para a compreensão contemporânea de liberdade. Devemos garantir que a combinação imprevisivel de duas seqüências diferentes de cromossomos continue a determinar  o direito de vir a ser através da lógica da natureza? Ou aceitaremos que o arbítrio de alguém, que deseja um "design" apropriado de um novo ser, possa interferir nos fundamentos somáticos e na liberdade ética de uma outra pessoa que ainda não existe e não pode ser consultada?"

"A engenharia genética, com suas técnicas de seleção, acabará por funcionar como uma máquina de hierarquização social. E, se for socializada, produzirá padronizações. De uma forma ou de outra, todos os cidadãos terão por genitores ou co-genitores a ciência; ou, num caso mais extremo, um Estado totalitário que tutele e determine o perfil biológico de seus cidadãos. Éramos frutos do acaso e das probabilidades, uma espécie de loteria biológica que nos protegia contra a arbitrariedade. A partir de agora, terceiros poderão nos determinar biologicamente. Nós próprios, os únicos direta e essencialmente interessados, só poderemos saber dos resultados quando eles estiverem irreversivelmente impressos em nosso ser pelos códigos genéticos que alguém resolveu escolher sem nossa aprovação."

Para Habermas "ao descontente restaria apenas escolher entre o fatalismo e o ressentimento."

"É revelador desses novos dilemas fato ocorrido em 2005, quando um rapaz londrino de 15 anos conseguiu, após obstinada procura, rastrear seu pai anônimo doador de esperma enviando uma amostra de sua saliva para testes genéticos.... E acabou encontrando o doador verdadeiro, com quem fez contato amigável, ainda que este tivesse doado sob compromisso de anonimato. Esse fato é um pequeno exemplo ds complexidades psicológicas que a engenharia genética irá desencadear."

Isso posto, perguntas:

Qual Ministério controla as incontáveis clínicas de reprodução assistida?

Qual é a lei e as regulamentações pontuais sobre esse novo ramo de clínicas no nosso país?

Qual é a possibilidade de crianças assim produzidas venham a conhecer seus genitores biológicos?

Qual é o tempo definido para congelar embriões?

Qual é o destino de embriões não usados pelos genitores biológicos?

Estão garantindo as condições de manutenção de famílias com padrões religiosos, etnicos, culturais e escolares, poder aquisitivo para as novas crianças geradas por casais estéreis?

O livro "O Mito do Progresso" é uma preciosidade para nossa leitura, reflexão e tomada de decisões em aspectos de grande seriedade no curto, médio e longo prazo.

Para evitar que.... um dia, antes de 2030, cheguemos à tristíssima conclusão que, por omissão, leviandade, inconsequência, medo, covardia, falta de persistência e tomada de decisão nós nos abandonamos aos desígnios do deusdará. 

por Maria Lucia Zulzke, em 29 de setembro de 2009, 10:00am em S.Paulo - SP - Brasil