O autor, Antônio Carlos Valença, define esse seu livro como um tipo de compilação. Faz uma homenagem aos 21 anos da edição do livro "Theory in Practice", lançado em 1974, com grandes referências aos textos de Chris Argyris e tantas outras referências aos textos de sua parceria com Donald Schön. O livro que tenho aqui na minha estante foi comprado em 1997.
Esse é um livro para quem busca entender processos terapêuticos, mergulha em análise e tem interesse no mundo comportamental, das convencões, o mundo da ação e da interpretação humana.
Os sistemas abertos de aprendizagem pessoal e interpessoal são apresentados como o sistema de aprendizagem organizacional.
O autor trata de questões e dúvidas sobre como uma determinada profissão possui uma teoria de ação e como se ensina a prática profissional, o que o profissional precisa conhecer para exercer bem sua prática: as salas de aula, as clínicas psicológicas, os laboratórios de engenharia, ambientes estruturados para que cada profissão possa ter sua técnica e método.
Se uma atividade é nova ou antiga, se é socialmente aprovada ou ainda precisará ser sancionada há uma grande estrada de aprendizagem e prática.
O autor apresenta desenhos e esquemas de ambiente gerencial, ressalta a interação entre o cliente e o profissional, para produzir uma aprendizagem mútua e recíproca. O que gosto neste livro é que o autor me parece ser ético, claro, preocupado em explicitar as regras da aprendizagem, ninguém faz papel obscuro de cobaia, há conexão e mútuo reconhecimento entre o profissional e o cliente do processo profissional.
São listadas algumas condições básicas para a aprendizagem:
- forma da pessoa lidar com o erro ( profissional e cliente);
- detecção e correção do erro ( dos envolvidos);
- o encontro ( entre o profissional e o cliente);
- implementar condições e soluções adequadas porque o erro é qualquer aspecto do conhecimento em ação e que tornará ineficaz a investigação.
A importância da aprendizagem é ampliar a liberdade de escolha, ter mais alternativas para selecionar, ao contrário de reforçar comportamentos repetitivos que se manifestam na rotina e indicam a falta de aprendizagem.
pg 129 - " Ex: A controla o comportamento de B; A aprende que há consequências negativas do controle unilateral. Reduz este controle. Muda o comportamento. Mas os valores podem continuar os mesmos, isto é, A pode controlar-se com o intuito de vencer B. No momento em que B cometer um erro, A assume o controle. Muda o comportamento mas não muda a teoria em uso. "
Para compreender a ação humana é fundamental compreender a teoria em uso. Para ser observado, o comportamento precisa ser produzido. Precisa ter significado. Ao ter um significado social o comportamento se transforma em ação. "
Quando termino leituras como esta, fico muito mobilizada.
Se a postura dos profissionais, grupos, entidades, associações ou detentores de meios de controle e educação não for amorosa, inclusiva e responsável com os indivíduos sob sua responsabilidade, pode-se transcorrer 10, 15, 20 anos de análises, observações e o índice de realização e felicidade, socialização do cliente ser baixíssimo. Perdeu-se mais uma vida a título de experimentação? A quem se irá prestar contas? Cada profissional e cada profissão tem sua ideologia! Cada grupo é influenciável por pressupostos de sua criação.
Na época em que eu trabalhava com defesa do consumidor eu fazia parte da corrente de profissionais que defendia o direito do paciente conhecer os efeitos secundários e colaterais de remédios e, essa postura, antes da década de 80 era um ultraje para médicos e especialistas que falavam em linguagem hermética e não davam direitos de autonomia aos pacientes.
Eu defendo o direito da individualidade ser respeitada, quando há um posicionamento legal, ético e de consciência, sem que isso signifique agredir o outro ou a coletividade.
Este livro para mim valida uma crença pessoal: só não se explicita a verdade e não se compartilha a sinceridade com pessoas que são consideradas, na hierarquia social, como tendo menos valor, menos respeito, não tem valor pessoal, são infantis e mantidas na infantilidade por interesses de grupos.
Quando profissionais querem levar vantagens sobre outros isso volta a ter uma justificativa.
Tratamentos infantilizados, fantasiados ou maquiados, quando uma pessoa entra num relacionamento municiado de recursos não disponíveis pelo outro, por exemplo, escuta telefônica, espionagem, investigação, há um desequilíbrio de poderes.
Os grupos de vítimas ficam em desvantagem permanente, sem recursos de auto-defesa e evolução humana.
Imaginem se fossem selecionadas pessoas cuja intimidade fosse devassada para lhes fragilizar a vida social e comunitária! E que essas pessoas fossem normais, com suas características naturais, desejosas de afeto, amizade, respeito, vida social, necessidades comerciais, de compra e venda etc?!
O objeto do estudo do autor precisa ser complementado com leituras e estudos sobre os vários tipos de pessoas, as várias culturas e profissões com seus rituais, compromissos e sigilos etc.
Existem grupos que se julgam legítimos, contam com grandes espaços de intervenção e detestam expressão de afetividade, detestam expressões de sentimentos e emoções, só valorizam produção, atitude política ou atitude comercial ou postura corporativa, minuciosamente treinada, contida, estudada e verbalizada. É um aprendizado inquietante!
Maria Lucia Zulzke, em 19 de dezembro de 2009, às 11:00 am, em S.Paulo - SP - Brasil.
sábado, 19 de dezembro de 2009
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