segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Homem que Calculava - Malba Tahan - editora Saraiva

Tenho esse livro desde que era pequena. Tio Samuel Ribeiro dos Santos, casado com uma das irmãs de minha mãe, foi quem me deu. Ele sabia o quanto eu adorava ler e tinha um certo orgulho que eu me dedicasse aos estudos, pois ele foi um agrônomo dedicado e bem sucedido. É um livro de lendas e fantasias, e o autor se localiza em Bagdá, 19 da Lua de Ramadan 1321.

A dedicatória já é um "must" de fascinação! Foi dedicado aos 7 grandes geômetras cristãos ou agnósticos: Descartes, Pascal, Newton, Leibniz, Euler, Lacrance, Comte - (Allah se compadeça desses infiéis!) e, também, foi dedicado ao matemático, astrônomo e filósofo muçulmano - Buchafar Mohamed Abenmusa Al Karismi (Allah o tenha em sua glória!)

E, também, a todos os que estudam, ensinam ou admiram a prodigiosa ciência das grandezas, das formas, dos números, das medidas, das funções, dos movimentos e das forças.

assinado - Ali lezd Izz- Edin Ibn Salin Hank Malba Tahan - crente de Allah e de seu santo profeta Mahoma

O livro é delicioso para crianças e jovens, deveria ser leitura obrigatória em escolas para estimular o prazer pelos cálculos e pela intrigante possibilidade dos números na vida das pessoas.

"A singular aventura de 35 camelos que deviam ser repartidos por 3 árabes."

"Poucas horas havia que viajávamos sem interrupção, quando nos ocorreu uma aventura digna de registro, na qual meu companheiro Beremis, com grande talento, pôs em prática as suas habilidades de exímio algebrista.

Encontramos, perto de um antigo "refúgio", três homens que discutiam acaloradamente ao pé de um lote de camelos.

Por entre pragas e impropérios gritavam possessos, furiosos:

- Não pode ser!
- Isto é um roubo!
- Não aceito!

O inteligente Beremis procurou informar-se do que se tratava.

- Somos irmãos - esclareceu o mais velho - e recebemos, como herança, esses 35 camelos. Segundo a vontade expressa de meu pai, devo eu receber a metade, o meu irmão Hamed Namir uma terça parte e ao Harim, o mais moço, deve tocar, apenas a nona parte. (nessa hora, eu, Maria Lucia, que era a mais nova na minha casa, ficava com o coração apertado porque sobrava sempre menos para quem vinha por último).

Não sabemos, porém, como dividir dessa forma 35 camelos, e a cada partilha proposta, segue-se recusa dos outros dois, pois a metade de 35 é 17 e meio! Como fazer a partilha se a terça parte e a nona parte de 35 também não são exatas?

- É muito simples - atalhou "o homem que calculava" -

Encarrego-me de fazer, com justiça, essa divisão, se permitires que eu junte aos 35 camelos da herança, este belo animal que, em boa hora, aqui nos trouxe!

Neste ponto, procurei intervir na questão:

- Não posso consentir em semelhante loucura! Como poderíamos concluir a viagem, se ficassemos sem o nosso camelo?

- Não te preocupes com o resultado, ó "bagdali"! replicou-me em voz baixa Beremis - Sei muito bem o que estou fazendo. Cede-me o teu camelo e verás, no fim, a que conclusão quero chegar.

Tal foi o tom de segurança com que ele falou que não tive dúvida em entregar-lhe o meu belo "jamal" - camelo - que, imediatamente, foi reunido aos 35 ali presentes, para serem repartidos pelos três herdeiros.

- Vou, meus amigos - disse ele, dirigindo-se aos três irmãos - fazer a divisão justa e exata dos camelos que são agora, como vêem, em número de 36.

E, voltando para o mais velho dos irmãos, assim falou:

- Devias receber meu amigo, a metade de 35, isto é, 17 e meio. Receberás a metade de 36 e, portanto 18. Nada tens a reclamar, pois é claro que saiste lucrando com esta divisão.

E dirigindo-se ao segundo herdeiro, continuou:

- E tu, Hamed Namir, devias receber um terço de 35, isto é, 11 e pouco. Vais receber um terço de 36, isto é, 12. Não poderás protestar, pois tu, também saiste com visivel lucro da transação.

E disse, por fim, ao mais moço:

- E tu, jovem Harim Namir, segundo a vontade de teu pai, devias receber uma nona parte de 34, isto é, 3 e tanto. Vais receber uma nona parte de 36, isto é, 4. O teu lucro foi igualmente notável. Só tens a agradecer-me pelo resultado!

E concluiu:

- Pela vantajosa divisão feita aos Irmãos - partilha em que todos os três sairam lucrando - couberam 18 camelos ao primeiro, 12 ao segundo e 4 ao terceiro, o que dá um resultado (18 + 12 + 4) de 34 camelos.

Dos 36 camelos sobram, portanto, dois. Um pertence, como sabem ao meu amigo e companheiro, outro toca por direito a mim, por ter resolvido, a contento de todos, o complicado problema de herança!


- Sois inteligente, ó estrangeiro! exclamou o mais velho dos irmãos. Aceitamos a vossa partilha na certeza de que foi feita com justiça e equidade!

.... e continuamos a nossa jornada para Bagdá.


( uma das mais lindas lições desse primeiro capítulo, além da justiça numérica final, de algo não divisível - camelo, foi que o estrangeiro agregou algo para a solução do impasse - sai da paralisia do indivisível, em sua unidade e integridade, o livro continua em muitos capítulos de magia, matemática e solução de problemas - um rico que morre de fome no deserto, a dívida de um joalheiro etc)
          Para crianças, jovens e curiosos na solução de problemas em busca de justiça e paz.


Maria Lucia Zulzke, em 05 de outubro de 2009, em S.Paulo - SP - Brasil, às 10:00 am

Um comentário:

Fefa disse...

Esse livro já marcou a infancia de muita criança! Preciso colocá-lo na minha estante na sessão de "próximas leituras"....ê furo!!! Quem sabe não me abre uma luz que facilita a minha vida na hora de ensinar matemática?!! rs...

Um beijão e boa tarde!!!
Fe